Festa da Dormição da Mãe de Deus (15 de Agosto)
Festa da Dormição da Mãe de Deus
A Mãe de Deus como ''Olho'' e como ''Terra''
Por Sua Eminência Metropolita Hierotheos de Nafpaktos e Agiou Vlasiou
Toda festa da Mãe de Deus é motivo de alegria para toda a Igreja, precisamente porque a Panagia [Toda Santa] glorificou a raça humana ao se tornar a pessoa que doou sua carne para a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo de Deus. Os Pais da Igreja, os santos hinógrafos e os iconógrafos representaram o valor de nossa Panagia, que é a alegria dos Anjos, a glória dos Santos, e a proteção de todos aqueles que sofrem e carregam o peso dos diversos problemas ligados à vida humana.
Dentre os muitos festivais da Mãe de Deus, uma lugar importante é ocupado pela Dormição de Theotokos, que adquire grande importância e valor tanto em razão de seu conteúdo, já que a Panagia derrotou a corrupção e a morte pelo poder de Cristo, tanto por causa do período em que é celebrada, motivo por qual é chamada de ''Páscoa do Verão''.
Participando nesta grande celebração da Mãe de Deus, eu gostaria de apresentar duas imagens usadas por São Nicolau Cabasilas para revelar a pessoa toda venerável, toda pura e toda santa de nossa Panagia.
A primeira imagem a apresentar a verdadeira pessoa e função de nossa Panagia é a do olho. De fato, a natureza humana inteira adquiriu um olho com a Panagia. ''Agora, a natureza do homem realmente recebeu um olho''. Antes do nascimento da Panagia e de sua aceitação obediente de se tornar a Mãe de Cristo, a natureza humana estava cega, não podia ver Deus. Claro que existiram Profetas no Velho Testamento que viram Deus, mas era temporário, já que não podiam sobrepujar a morte. Assim, de modo geral a natureza humana inteira, depois do pecado de Adão, era semelhante a um cego, desviando-se para a direita e para a esquerda, adorando falsos deuses. E isso era natural, já que o homem havia abandonado o Deus verdadeiro e se tornado espiritualmente cego. A adoração de ídolos era consequência da perda de adoração e conhecimento do Verdadeiro Deus. Por isso, aquilo que os Profetas e Justos do Antigo Testamento desejavam ver foi visto pela natureza humana na pessoa da Panagia.
A Panagia é o olho espiritual do universo. Assim como somente pelo olho a luz é recebida e dessa forma concedida aos demais membros do corpo, assim também somente à Panagia foi concedida a verdadeira luz, e através dela, que é o olho do universo, todos os membros, que são a humanidade, recebem a luz.
A outra imagem associada com a função da Panagia é a criação do homem. Sabemos que Deus criou o homem modelando o barro da terra e depois soprando em suas narinas uma alma. A terra contribuiu, pois dela Deus retirou a matéria para formar e construir o corpo, mas não fez isso por si mesma, porque a terra não possuía a liberdade para pedir e tomar uma decisão.
Esta imagem é adequada à recriação do homem que ocorreu com Cristo através da Panagia, mas com uma diferença. A Panagia é a nova terra da qual o novo homem foi criado, mas enquanto a terra não participou da primeira criação do homem com sua vontade, já que não possuía liberdade, na segunda criação a Panagia atraiu com sua vida e virtude o próprio Artesão e Criador e movimentou Sua mão para a regeneração da raça humana. Dessa forma, a Panagia suplica por nós diante de Deus antes mesmo da vinda do Suplicante, que é o Espírito Santo.
Estas duas imagens mostram a grandeza da Panagia, como também o grande e significante trabalho que ela realizou pela natureza humana. Daí porque nós, em toda festa da Mãe de Deus, demonstramos nosso amor. Através dela vemos o amor de Deus e enfrentamos os problemas que nos afligem. Através dela eliminamos nossa cegueira espiritual e adquirimos o conhecimento de Deus. Através de Theotokos Deus reconstruiu a raça humana, e nós da Igreja saboreamos esta regeneração. Nossa vida toma um outro sentido e contexto. Daí porque nosso amor pela Panagia é recíproco ao que ela fez e ainda faz por nós.
Toda pessoa tem sua história e seus problemas. Em todos estes problemas devemos procurar a Panagia, que está viva e ouve nossas orações. Isso não é uma ilusão ou utopia, mas uma realidade. Nosso povo tem uma extensa experiência neste assunto. Vemos, ouvimos e sentimos a Panagia nos momentos difíceis de nossas vidas. Esta tradição deve ser cultivada em nós. Pois nós, como povo, possuímos algo mais profundo e mais significativo; temos uma relação viva com Deus, com a Panagia e os com os Santos. E é fato que o mundo inteiro necessita desta perspectiva hoje em dia, que este é o único modo possível de percorremos as estradas desta vida, e de enfrentar os impasses da atual e tumultuada sociedade. Nesta ocasião de festa, oremos para que possamos encontrar a proteção da Mãe de Deus, da Panagia, para que unidos a ela possamos ter olhos espirituais que vejam a grandiosidade de Deus, a tragédia do homem, e o modo pelo qual podemos efetuar nossa restauração e recriação.
Fonte: Ekklesiastiki Paremvasi, "ΘΕΟΜΗΤΟΡΙΚΟ ΠΑΝΗΓΥΡΙ", Agosto 1999. Traduzido por John Sanidopoulos.
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